Os Adventistas e a Guerra de Secessão


O COMPORTAMENTO DA IGREJA EM 1860-1865 NA GUERRA DE SECESSÃO

Recebeu a denominação de Guerra de Secessão a guerra civil que houve nos Estados Unidos nos anos de 1860 - 1865, por causa da supressão da escravatura. A guerra foi entre os estados do sul que eram escravistas e os estados do norte abolicionistas. Abraão Lincoln, presidente abolicionista, venceu a guerra da libertação dos escravos. Examinemos cronologicamente alguns fatos relacionados com o comportamento da Igreja naquele tempo:


1860 - INÍCIO DA GUERRA - O recrutamento era feito com voluntários. (Story of our Church, citado em Os Reformistas - Apostila do Dept. Ministeri­al da U.S.B. dos A.S.D., p. 33; Testemunhos para a Igreja, vol. I, p. 716 - apêndice)

1862 - 12 DE AGOSTO - Tiago White publica um artigo favorecendo o combate obrigatório.

Prevendo, por certo, que o Governo logo estaria decretando o recrutamento obrigatório, no dia 12 de agosto de 1862, Tiago White (James White), esposo de Ellen White, escreveu um artigo em nossa revista Review and Herald sobre o problema. O título que deu ao artigo foi, "À Nação". Damos aqui alguns parágrafos.

"A posição que nosso povo tem assumido com relação à perpetuidade da Lei de Deus contida nos dez mandamentos, não está em harmonia com todas as exigências da guerra. O 4º mandamento dessa lei diz: 'Lembra-te do dia-Sábado para guardá-lo santo'; o sexto diz: 'Não matarás'. Mas nos casos de recrutamento, o governo assume a responsabilidade da violação da Lei de Deus, e seria loucura resistir. Quem na aplicação da lei militar, resistisse até ser fuzilado, teria ido longe demais, assim pensamos, assumindo a responsabilidade de suicídio.

"Até o presente gozamos a proteção de nossos direitos civis e religiosos neste melhor governo debaixo do Céu. Com exceção daqueles decretos que o pressionam oriundos do poder escravizador (de negros), suas leis são boas... Seja o que for que tenhamos a dizer de nosso amável presidente, seu gabinete, ou de seus oficiais militares, é cristão honrar toda boa lei de nosso país. Disse Jesus: 'Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus 1. Mt 22, 21. Quem menospreza a lei civil deve de uma vez arrumar as malas e partir para algum lugar no escabelo de Deus onde não haja lei civil.

"Quando vier a acontecer que decretos civis forem promulgados para levar-nos da obediência à Lei de Deus para unir-nos àqueles que estão vivendo em rebelião contra o governo do Céu (ver Ap 13:15-17), então será o tempo de nosso perigo de martírio. Mas, tentarmos resistir às leis do melhor governo debaixo do Céu, que está agora lutando para derrubar a mais infernal rebelião havida desde aquela de Satanás e seus anjos, reafirmamos, seria loucura.

"Aqueles que são leais ao governo do Céu, fiéis à constituição e leis do Governador do Universo, são os últimos a fugir para o Canadá ou para a Europa ou para ficar de pés trêmulos pelo medo da convocação militar..." (Destaques nossos).

1862    -19 DE AGOSTO - Ellen White se pronuncia

Uma semana após a publicação do artigo do Pastor White, ou seja, no dia 19 de agosto, em carta à Sra. Steward, escreveu a irmã White:

"Quanto ao tópico que o meu esposo escreveu na Review que expressa meu pensamento, embora não esteja inteiramente segura quanto ao porte de armas, parece-me, no entanto, consistente. Penso que iria agradar ao inimigo obstinadamente recusar-nos a obedecer à lei do nosso país (quando essa lei não está de encontro à nossa fé), e sacrificar nossa vida. Parece-me que Satanás iria exultar em ver-nos apagar [morrer] tão baratamente, porque nossa influência não seria salutar sobre os nossos observadores, como a morte dos mártires. Não. Por não termos ido em socorro de nossa nação em perigo, todos pensariam: ‘Muito bem feito!’ Estivesse nossa fé em jogo, deveríamos alegremente depor as nossas vidas e sofrer com Cristo”.

"É agora o tempo para sermos testados e a genuinidade da nossa fé, provada. Aqueles que têm professado a fé meramente, sem uma experiência, se encontrarão em situação difícil. Jovens e velhos deviam agora buscar uma experiência nas coisas de Deus. Um trabalho superficial será de nenhum proveito. Precisamos ter os princípios da verdade bem gravados na alma e praticá-los em nossa vida e então estaremos cingidos de força no dia da luta e conflito que estão diante de nós. Devemos confiar em Deus agora. Seu braço nos susterá." (Destaques nossos).



1862    - agosto - Alguns irmãos protestam, Tiago White replica

No dia 26 desse mesmo mês de agosto, ou seja, catorze dias após a publicação do artigo "À NAÇÃO", Tiago White publicou na mesma revista e sob o mesmo título, a seguinte nota:

"Vários irmãos, em linguagem um tanto exaltada, fazem referências a nossas observações publicadas duas semanas atrás sob este título. Convidamo-los a lerem novamente o artigo e estarem certos de que entenderam a nossa posição, antes de se lhe oporem. Irmãos! Não é tempo para cavalheiros cristãos recuarem com sentimentos de preconceito, e virtualmente acusar-nos de ensinar transgressão do Sábado e assassínio. Melhor teriam feito os irmãos se fossem a Deus com este assunto, e assegurassem para si mesmos um espírito humilde e passível de ser ensinado; então, se algum dos irmãos é convocado e escolhe ter uma luta de boxe contra Tio Sam, de preferência a obedecer-lhe, pode então experimentá-lo. Não discutiremos com os irmãos, com receio de que alguns não resistentes façam uma pequena guerra antes de serem convocados para lutar pela sua pátria. Quaisquer artigos bem escritos que possam trazer luz sobre os nossos deveres como um povo com referência à presente guerra, receberão pronta atenção." (Destaque acrescentado).

Nessa data, Tiago White contava 41 anos de idade e 18 anos de ministério adventista e Ellen White contava 35 anos de idade e 18 anos de ministério profético! A Guerra já estava acesa havia dois anos e o Senhor ainda não tinha enviado nenhuma luz sobre o problema.

SETEMBRO, 16 - Tiago White deseja que outros se pronunciem.
Tiago White, por fim, deve ter-se sentido inseguro e solicitou que outros irmãos se preocupassem com a questão. Escreveu em 16 de setembro na Review:
'Temos falado francamente sobre alguns pontos, e agora gostaríamos de convidar os irmãos S. Pierce, Hutchins, O. Nichols, Bourdeau, Cornell, Andrews, Aldrich, Waggoner, Loughborough, Hull, Ingrahan, Snook, Brinkerhoof, ou quaisquer outros, para comunicar aos irmãos luz sobre o assunto"( Citado por Helmut H. Kramer em Os Adventistas da Reforma, p. 100). (Destaque acrescentado).

PRONUNCIAMENTOS DIVERSOS NA REVIEW AND HERALD

J. H. Waggoner: (O pai de Ellet Waggoner - mensageiro da Justificação pela Fé em 1888, tinha esse nome. Deve ser o próprio.): "Minha presente convicção é que eu sofreria antes o resultado de um recrutamento e confiaria em Deus quanto às conseqüências, de preferência a aceitar uma avaliação de cem dólares da minha consciência...." - Review & Herald, 23/9/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.100).

Josef Clarke: “Deve o cristão, afinal de contas, que está em tão grande débito para com o governo por seu cuidado protetor no passado, esquecer o seu país na hora do perigo? Pensem nisto. É homicídio enforcar ou balear um traidor? Não! Não! Quando os homens se rebelam contra leis justas e boas, a morte é o que lhes pertence por justiça e o executor fica sem culpa. Não está o exército do Sr. Lincoln entre nós e um despotismo militar pior do que o de Faraó? Devemos nós, então nos retrair da requisição de um recrutamento militar? Ainda mais, não devemos nós cristãos ter nenhum amor ao país que nos adotou? Gosto muito das observações do Irmão White sobre este assunto. Não deveríamos envergonhar a memória de Washington e de outros heróis a quem Deus abençoou no campo de batalha...

Mas, conquanto empenhados em uma cruzada contra os traidores, que apreciemos os homens bons e verdadeiros, que prestam estrita obediência às leis." - Review & Herald, 23/9/1862(Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.100 e 101).

J. N. Loughborough: "Mas esta guerra não tem diretamente como seu objetivo o extermínio da escravidão; se assim fosse, eu não teria objeção em lutar” - Review & Herald 30/9/1862(Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.101).

D. T. Bordeau: "Não compreendo que guerra civilizada ou punição capital sejam contra o sexto mandamento... Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para evitar a transgressão da santa lei de Deus. Se fazemos isto, não nos estaremos colocando voluntariamente onde não podemos guardar o sábado, o que podemos evitar sendo recrutados, e para que possamos obter maiores recompensas. As observações do irmão White sobre a condição de observadores do sábado recrutados, são satisfatórias na minha compreensão, e tenciono aderir a elas até que tenha motivos para crer que são incorretas.” - Review and Herald, 14/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.101 e 102).

R. F. Cottrell: “Não há necessidade de os irmãos irem à guerra uns com os outros sobre princípios de paz [ênfase do escritor]. Todavia, desejamos luz quanto ao nosso dever a verdadeira luz - e de maneira sensata esperamos tê-la.... De modo algum é certo que a vida de um homem seja tirada por ter ele declinado de lutar por motivo de consciência. Mas se todas as exposições de razões falharem, e, obviamente, se chegar a isto, eu recomendaria seguir o conselho dado, até que mais luz seja extraída da Palavra, ou concedida do Alto.... Quero a verdadeira luz sobre o assunto, e creio que a teremos." - Review & Herald, 14/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p 102). (Colchetes de Helmut Kramer).

B. F. Snook: “Quase desde a minha mocidade, acreditei que todas as espécies de guerra fossem contrárias aos ensinos do Novo Testamento. Mas depois de muita oração e séria investigação creio agora que ocupei uma posição extremista. Sou forçado a concluir que a doutrina da não-resistência universal é um extremismo indefensável."

(“Prosseguindo, ele usa o exemplo de Neemias ao defender Jerusalém dos seus inimigos:")

"Este testemunho prova que a luta em legítima defesa era autorizada por Deus. E onde, pergunto, disse Ele o inverso? Em lugar nenhum. Deus jamais disse que devemos ficar quietos e ser assassinados, ou ver nossas famílias massacradas pelas mãos cruéis de rebeldes profanos e ímpios. Como a presente guerra de nossa nação é em autodefesa, certamente não pode haver erro em ajudar a esmagar os rebeldes que estão tentando subvertê-la...

"Se Deus permitir que a sorte caia sobre nós, vamos e combatamos em Seu nome." Review & Herald, 14/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.102 e 103).

Na Review da mesma semana, Tiago White escreveu: "Achamos que os irmãos Bourdeau e Cottrell, na Review desta semana, falam com sabedoria sobre o assunto da guerra. Tememos que os irmãos Snook e Waggoner estejam se inclinando para o outro extremo (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.103)".

M.E. Cornell, exortando à moderação - não extremismo. R&H. 21/8/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.103 e 104).

Henry Carver duvida seriamente da colocação de Tiago White:

"Mas diz o irmão White: 'Em caso de recrutamento, o governo assume a responsabilidade pela violação da lei de Deus" Isto me parece ser um pretexto insustentável e perigoso, porque, se o governo pode agora assumir a responsabilidade pela violação de dois daqueles santos preceitos, e ficamos inculpáveis, por que não pode o mesmo governo assumir a responsabilidade pela violação do mandamento sabático e ficarmos sem culpa, quando sair o decreto de que todos devem observar o primeiro dia da semana?" - Review & Herald, 21/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.104).

Tiago White, na mesma revista, "respondendo a alguns dos argumentos do irmão Carver", disse: "Não aconselhamos ninguém a ir para a guerra. Temos atacado o fanatismo que provém do extremo da não resistência, e temos trabalhado para levar nosso povo a buscar ao Senhor e confiar nEle quanto ao livramento. Como poderá isto vir, não temos nenhuma luz no presente.” - R&H, 21/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.104).

Martin Kitler: "Fui recrutado para as forças armadas dos Estados Unidos.... Eu pensava que era errado ir para a guerra, porém, as composições literárias da Review sobre este assunto me fizeram mudar de idéia, e fizeram o dever parecer claro." - R&H, 21/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.105).

Stephen Pierce: "Não penseis por isso que o espírito de guerra deve ser acariciado. Ele deve ser totalmente reprimido em nosso coração. E, se formos obrigados, devemos envolver-nos nela como o dever mais penoso ou revoltante. Doutro modo, enfrentaremos a condenação do transgressor: ‘Visto que não aborreceste o sangue, o sangue te perseguirá.’ Ezeq. 35: 6."-R&H, 28/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.105).

O. Nichols, lamentando a perda e incapacitação de centenas de milhares de soldados com quase nenhum progresso no esmagamento da rebelião e afirmando que "O evangelho de Cristo é uma nova dispensação", escreveu:

"É evidente que Deus está contra nossos exércitos e está dirigindo esta guerra para punir nossa nação. Deve o nosso povo que acredita que a vinda de Cristo está 'ás portas' empenhar-se nesta guerra?"-R&H 16/12/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.105 e 106).

J. M. Aldrich: "Ainda estou inclinado a ficar do lado não combatente da questão. Mas, ao tomar tal posição desejo dizer que gostaria de ser despojado de todo fanatismo, e não desejaria, em minhas relações com o mundo, exercer zelo indevido no assunto.... Não obstante tudo o que se tem dito pró e contra a resistência a um recrutamento, estou inclinado a pensar que nossa divergência de opiniões é mais aparente do que real." [Comenta Helmut Kramer: "Depois de discorrer sobre a experiência dos três dignos hebreus em Babilônia, disse ele [Aldrich]:]"

"Estou um tanto inclinado a pensar que em caso de um recrutamento militar, eu modificaria um pouco sua linguagem e diria não posso, em vez de não farei." - R&H, 23/10/1862 (Citado por Helmut J. Kramer em Os Adventistas da Reforma. p.106).

1863 - JANEIRO - Um testemunho sobre o artigo de Tiago White

Na literatura reformista encontram-se partes do testemunho intitulado "A Rebelião", escrito em princípios de 1863, que se encontra em Testemunhos para a Igreja, (CPB. 2000) vol. I, páginas 355 a 368. É nesse testemunho que a serva do Senhor afirmou que o povo de Deus não devia participar da Guerra de Secessão. Nas páginas 356 e 357 encontra-se uma apreciação que ela faz da crítica que vários irmãos fizeram ao artigo de seu esposo na Review. Esta parte se encontra reproduzida no livreto reformista "Em Defesa da Lei de Deus", páginas 11-13. Transcrevemo-la aqui com a própria tradução reformista de 1T.

"Foi-me mostrado o excitamento criado entre nosso povo pelo artigo publicado na Review, intitulado: 'À Nação'. Alguns o compreenderam de um modo, outros de outro modo. As expressões claras foram torcidas, para oferecerem um significado que o escritor (o autor do artigo) não tinha em mente. Ele forneceu a melhor luz que então possuía. Tornou-se necessário dizer algo. A atenção de muitos foi atraída para os observadores do Sábado, porque não manifestavam maior interesse na guerra nem se apresentavam como voluntários. Nalguns lugares eram considerados como simpatizando com a rebelião. Chegara o tempo para manifestarmos nossos verdadeiros sentimentos com respeito à escravidão e à rebelião. Foi necessário agir com sabedoria para evitar as suspeitas criadas contra os observadores do Sábado. Devemos agir com cautela. 'Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens'. Podemos obedecer a esta admoestação sem sacrificarmos um só princípio da nossa fé. Satanás e sua hoste estão em guerra com os guardadores dos mandamentos, e trabalharão para levá-los a posições probantes. Não devem, porém, eles próprios, por falta de discrição, colocar-se ali.

"Foi-me mostrado que alguns agiram mui indiscretamente com respeito ao mencionado artigo. O mesmo não concordava em todos os sentidos com os seus pontos de vista, e, em vez de pesarem o assunto calmamente, examinando-o sob todos os aspectos, ficaram agitados, excitados e alguns pegaram da pena e se precipitaram para conclusões que não suportariam exame. Alguns foram incoerentes e irrazoáveis. Fizeram o que Satanás sempre se apressa para levá-los a fazer, ou seja, deram vazão aos seus próprios sentimentos rebeldes.

"Em lowa, eles levaram as coisas muito longe e incorreram em fanatismo. Tomaram o zelo e o fanatismo por consciência. Em vez de serem guiados pela razão e pelo são juízo, permitiram aos seus sentimentos tomar o governo (de si mesmos). Estavam prontos para se tornarem mártires pela sua fé. Esses sentimentos, porém, os guiaram para Deus? E para maior humildade perante Ele? E os levaram a confiar no Seu poder de os livrar da probante posição para a qual poderiam ser encaminhados? Oh, não! Em vez de fazerem as suas súplicas ao Deus do Céu e confiarem somente no Seu poder, pediram à legislatura e sofreram recusa. Mostraram sua fraqueza e expuseram sua falta de fé. Tudo isto apenas serviu para pôr a classe peculiar dos observadores do Sábado em evidência especial e para expô-los de maneira que sejam comprimidos em posições difíceis por aqueles que não têm simpatia por eles.

"Alguns têm estado prontos para criticar e queixar-se de qualquer sugestão feita. Poucos, todavia, têm tido sabedoria, neste tempo mui probante, para pensarem sem preconceito e dizerem francamente o que deve ser feito. Vi que aqueles que têm estado dispostos a falar tão decididamente acerca da recusa em atender à convocação, não entendem do que estão falando. Se fossem realmente convocados e recusando-se a obedecer, fossem ameaçados de prisão, tortura e ou morte, eles recuariam, e então veriam que não se haviam preparado para tal emergência. Não suportariam a prova de sua fé. O que pensavam ser fé apenas era fanática presunção.

"Os mais bem preparados para sacrificar mesmo a vida, se exigido, de preferência a se colocarem numa posição em que não poderiam obedecer a Deus, seriam os que teriam menos que dizer. Meditariam muito, e suas sinceras orações ascenderiam ao Céu pedindo sabedoria para agir e graça para suportar. Os que sentem que, no temor de Deus, não podem conscienciosamente tomar parte nesta guerra, serão muito calados, e, quando interrogados, somente dirão o que são obrigados a dizer para responderem ao interrogador, dando então a entender que não simpatizam com a rebelião" (IT. PP. 356, 357, tradução reformista em “Em defesa da lei de Deus”, PP 11-13).
(Destaques acrescentados.)

Ficamos pensando: Se o Movimento de Reforma já existisse naquele tempo e aquela gente célebre fosse membro do mesmo, como agiriam os seus líderes com relação a todos os pronunciamentos acima? Alguns dos autores seriam excluídos, a começar com o Pastor Tiago White que era o editor de Review and Herald; outros seriam disciplinados, e, talvez, entre esses, a própria Ellen White, se não seria eliminada também. Apenas três (Waggoner, Carver e Nichols) nada teriam a responder perante a comissão da Igreja.

1863 - JANEIRO - Testemunho contra participação naquela guerra

No mesmo testemunho, páginas adiante, escreveu Ellen White:
"Revelou-se me que o povo de Deus, que é Seu tesouro particular, não pode envolver- se NESSA desconcertante guerra, pois ela se opõe a todos os princípios de sua fé. No exército eles não podem obedecer à verdade e ao mesmo tempo atender às ordens de seus oficiais. Haveria uma contínua violação de consciência" (Testemunhos para a Igreja, edição 2000, 1º Vol., p.361).

Mostraremos adiante que o comportamento da Igreja depois de dado esse testemunho, mostra que os adventistas não deviam participar como combatentes, mas podiam ou deviam participar como não combatentes naquela guerra civil.

No testemunho em tela, ela usa a expressão "nesta desconcertante guerra" ou "nesta guerra complicada". Há o argumento de que se naquela guerra movida por uma causa justa sustentar a abolição da escravatura - o crente não devia participar, muito menos pode participar de qualquer outra.

Outras declarações do mesmo testemunho revelam por que aquela guerra foi chamada de complicada ou desconcertante:

Essa guerra é diferente de qualquer outra... Muitos dos soldados foram deixados em reclusão e caíram em um impressionante estado de degradação. Como pode Deus avançar com tal exército corrupto?... Há discórdia e disputa por honras, enquanto os pobres soldados estão morrendo aos milhares nos campos de batalha, por ferimentos, abandono e dificuldades.... Outras nações estão olhando desgostosas... Elas observam os esforços determinados para prolongar a guerra, com imenso sacrifício de vidas e dinheiro.... Parece-lhes ser uma competição para ver quem mata mais homens, Elas estão indignadas....” -Testemunhos para a Igreja, edição 2000, vol. 1, p. 367. (Destaques acrescentados)

Mas, embora a irmã White tenha usado a expressão NESSA GUERRA e não tenha escrito que não podemos participar em guerra nenhuma, não estamos defendendo que em outras guerras o crente possa portar armas.

1863 - MARÇO - Início do recrutamento obrigatório com compra de isenção

Somente em março de I863 é que foi aprovada a lei do recrutamento obrigatório. Sob essa lei, os homens que fossem não combatentes podiam ser designados para trabalhar em hospitais ou em outras atividades não combatentes, ou ainda comprar a isenção pagando a taxa de 300 dólares (Story o four Church, citado em Os Reformistas – Apostila do Dept. Ministerial da U.S.B. dos ASD., pp. 33, 34).

1864 - 2 DE AGOSTO - Declaração ao Governo do Estado de Michigan.
Nossa liderança mundial faz uma declaração ao Estado de Michigan informando que as convicções adventistas quanto à Lei de Deus, contrastam com o espírito e a prática da guerra, e assim, por motivo de consciência, eram contra o porte de armas, e, “quando alistados, de preferência a violar os nossos princípios preferiam pagar, e ajudar uns aos outros a pagar, os $300 /substituição” (Francis McLellan Wilcox, Seventh-Day Adventists in Time of War, p. 58).

"Até julho de I864, a isenção estava ao alcance de todos, mas, após essa data, somente os objetores conscienciosos é que a podiam pedir... A maioria dos adventistas pediram a isenção e foram ajudados a pagar a taxa por ofertas liberais da parte dos membros da igreja. Os que ingressaram nas Forças Armadas obtiveram raramente os privilégios de não combatentes" (The Story of Our Church, p. 496, citado no livreto reformista Em Defesa da Lei de Deus, p. 9)
. (Destaques acrescentados)

“Em alguns casos, jovens adventistas foram convocados para o exército e designados a servir em hospitais ou em outros serviços não combatentes. Fosse qual fosse sua designação, eles procuravam deixar sua luz brilhar” (IT 717 – Nota dos Depositários EGW. reproduzido em “Em Defesa da Lei de Deus” - reformista, p. 9).
(Destaques acrescentados).

Depois de citar em “Em Defesa da Lei de Deus”, p. 9, os dois parágrafos acima que foram antecedidos por uma série de outras declarações, O AUTOR REFORMISTA faz a seguinte observação:

"Aqui temos a posição oficial da Igreja Adventista, como um corpo, para com a guerra, em 1860-1864, de acordo com a decisão da Conferência Geral e a LUZ CONCEDIDA POR INTERMÉDIO DO ESPÍRITO DE PROFECIA". (Destaque acrescentado).

Concorda então o autor reformista, com que a Igreja Adventista está certa em aceitar serviços de socorros na guerra? Vê-se que tais serviços não são condenados no testemunho citado contra aquela guerra.

Mas, prossigamos. Você leu atrás que houve convocados adventistas que ingressaram nas forças armadas mas não conseguiram "os privilégios não combatentes". É importante relembrar que não temos conhecimento de que qualquer comissão de igreja ou de campo ou da Associação Geral, se tenha reunido para julgar esses irmãos menos privilegiados. Que fizeram eles na guerra?

1864 - 29 DE AGOSTO - Adventistas conseguem direito de participação não combatente

"A 29 de agosto de I864, J. N. Andrews partiu de Battle Creek para Washington, distrito de Columbia, na tentativa de obter do Departamento da Guerra permissão para os adventistas do sétimo dia receberem entrada no serviço de não combatentes, em hospitais ou em qualquer lugar, a fim de não serem obrigados a tirar vidas humanas. Foi bondosamente recebido pelo governo de Abraão Lincoln, sendo-lhe deferida a petição" (Fundadores da Mensagem, p. 231).

Seis formas de participação adventista na Guerra de 1860-1865
1- Pagavam inicialmente "bounties" (prêmios). Quando "constrangido" a alistar-se como voluntário, o indivíduo podia pagar uma taxa para ser substituído por outro voluntário (Testemunhos para a Igreja, vol. 1, ed. 2000, p. 716).

2- Pagavam, quando saiu a Lei de recrutamento compulsório, a taxa de isenção de 300 dólares (para beneficio de soldados doentes ou feridos) *( Seventh-Day Adventists in Time of War. p. 58. Story of our Church, citado em Os Reformistas - Apostila do Dept. Ministerial da USB. dos A.S.D., p. 34).

3- Serviam em hospitais (Testemunhos para a Igreja, vol. I, ed. 2000, p. 717 (apêndice) Ver Em Defesa da Lei de Deus (reformista), p. 9).

4- Faziam outros serviços não-combatentes (Idem, idem, idem).

5- Levantavam ofertas liberais para ajudar a irmãos que não podiam pagar a taxa para substituição (Story of our Church, p. 496, citado em Em Defesa da Lei de Deus, p. 9).
.
6- Obreiros, inclusive Tiago White, agiam como representantes para pagamento dos prêmios para substituição de voluntários (Story of our Church, citado em "Os Reformistas - Apostila do Dept. Ministerial da U.S.II. dos A.S.D., p. 33).

HOUVE ADVENTISTAS QUE COMBATERAM?
Perguntamos: Enviou Deus algum testemunho contra o que se fez? Não conhecemos nenhum. O testemunho único de condenação é o citado, contra as críticas feitas a Tiago White que defendera o combater deixando a culpa com o governo.

CONCLUSÃO: A igreja não recebeu nenhuma luz para julgar os que vão à guerra, e ao aceitar e apoiar que os seus membros sirvam como socorristas adota um comportamento histórico vindo do tempo dos pioneiros - anos 60 do século 19.

Fonte: Extraído do livro “Aos ASD da Reforma de 1914” capítulo 8, do autor Antônio Ramos Dourado.

Um comentário:

  1. "CONCLUSÃO: A igreja não recebeu nenhuma luz para julgar os que vão à guerra, e ao aceitar e apoiar que os seus membros sirvam como socorristas adota um comportamento histórico vindo do tempo dos pioneiros - anos 60 do século 19."

    “Como a inscrição voluntária no serviço de guerra é contrário aos princípios de fé e práticas dos Adventistas do Sétimo Dia, contidos nos mandamentos de Deus e fé de Jesus, eles não podem conservar aqueles que dentro da sua congregação se alistam. Enoch Hayes foi por isto excluído dos membros da igreja de Battle Creek, por votação unânime da igreja no dia 4 de Março de 1865.
    As igrejas de Plum River e Green Vale, reunidas no dia 22 de Janeiro, e depois da devida deliberação, retiraram a Hiram N. Bates a posição de membro de Igreja, quem se havia alistado voluntariamente no exército dos Estados unidos, demonstrando com isso que ele no estava em harmonia com os critérios dos adventistas do sétimo dia.” (R.H. 7 de Março de 1865, pág. 112)

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