Confira o depoimento de um adventista que em determinado momento de sua vida resolveu ser reformista e depois de 5 anos na IASD-MR voltou para a igreja adventista.
Desde aquele dia em que dissemos adeus ao irmão X, que fascinado pelas aparências
enganadoras da reforma, nos deixou, cinco longos anos se passaram.
Foram cinco anos vividos e sofridos por esse pobre irmão, e
também cinco anos
suados para os reformistas que viram periclitar seu monopólio de "aparências"
diante do exuberante zelo sem entendimento do irmão X.
Alguns, é verdade, estimulados e aguilhoados pelas exigências sempre
crescentes do nosso herói, mais se firmaram em suas ideias canhestras; outros, porém,
desanimados por não poder acompanhar o trote, deram de mão a tudo, voltando-se
para a amplidão vazia da descrença.
Deixemos que ele mesmo nos conte a história desses cinco anos em que foi
perseguido pelos "santos" reformadores e que nos narre como afinal se
converteu.
— Irmão X, gostaríamos que nos contasse sua experiência e que, sem se
preocupar com a gramática, falasse de coração a coração, narrando-nos toda a
verdade. Conte-nos por que o irmão deixou a igreja; o que encontrou na reforma
e por que, afinal, está de volta à casa paterna!
— Pois bem, pastor. É justamente isto que eu quero fazer! Contar toda a
verdade!
"Como o senhor sabe, fui um homem extremamente zeloso! Zelo sem entendimento,
é verdade, mas o fui na minha sinceridade.”
"Como Saulo, vivi durante estes últimos anos respirando ódios e
ameaças, e participei de apedrejamentos morais dos líderes, dos obreiros e da própria
Causa de Deus.”
"Saí da igreja porque no íntimo me julgava mais santo do que os
demais.”
"À medida que me sentia mais purificado, mais santificado, mais
aborrecia meus irmãos. Hoje compreendo a origem destes sentimentos, mas naquele
tempo eu pensava que era obra do Espírito Santo.”
"Para mim, todos estavam apostatados, e só eu me encontrava no muro,
tapando a brecha. Quando não resisti mais e me sentia sem forças para salvar a
igreja, zarpei para a reforma, certo de que ali encontraria um pugilo de bravos
dispostos a dar a vida pelos princípios e pela verdade, mas foi uma desilusão!
O mundanismo e a hipocrisia medram dentro da reforma, como agrião no banhado, e
lá eles têm problemas ainda maiores que os nossos.”
"É verdade, pastor, que há na reforma pessoas sinceras que procuram seguir
a verdade tal qual ela é em Jesus; porém, a maioria é composta de homens e
mulheres que fazem da aparência o seu deus, e a ninguém hoje na face da Terra
se aplicam tão bem as advertências de Cristo, como a eles, os modernos
fariseus, que por fora, são como sepulcros caiados, formosos à vista; por
dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a imundície. São eles os que se
esmeram no exterior, mas interiormente estão cheios de rapina e iniquidade.
Exteriormente parecem justos, mas interiormente estão cheios de hipocrisia e
maldade.”
"Digo isto, pastor, porque sei o que estou falando.”
"O senhor sabe perfeitamente que para um homem se orientar por
princípios, ele precisa ser veraz, honesto e acima de tudo manso e humilde de coração.”
"Isto de não comer carne e outras proibições justas e razoáveis, não
quer dizer que uma pessoa seja de princípios por esse motivo. O boi, o cavalo,
as ovelhas, os cabritos e grande parte dos irracionais não comem carne, e nem por
isso são santos, como também não é santo o homem só por deixar de comer certas
coisas.”
"Conheci na reforma, como conheço na
nossa igreja, homens e mulheres que
fazem do regime alimentar prova de
discipulado, que são rígidos e intransigentes quanto a comer e beber, mas
que, entretanto, são pessoas intratáveis, intoleráveis, falsas como a serpente, tais quais eu era quando capengava deste lado. Não que o regime alimentar sadio as tenha transformado em hipócritas. Absolutamente! E, sim, porque se entrincheiram atrás de um
regime para criticar os demais, e acabam se convencendo de que são melhores e mais puros que os outros; e daí, e
de outras coisas semelhantes, surge a figura sinistra, terrível e espantosa do
fariseu, que proclama em todos os seus atos e palavras as virtudes do
pretensioso 'santo' descrito por Isaías: 'Retira-te, e não te achegues a mim, porque
sou mais santo do que tu.' Estes, diz Deus, 'são um fumo no
Meu nariz, que arde todo o dia'. Isa. 65:5.
"Hoje eu continuo vegetariano, e como tal espero morrer, mas propus-me
seguir o conselho de Paulo, de não condenar os que comem e de não me deixar
levar pelo engano do diabo, que procura encher a gente de vento, dando-nos a entender
que somos superiores a todos os mortais.”
"Na reforma, pastor, encontrei alguns homens leais, sinceros, que
estão lá porque acham que é o único lugar no mundo em que podem estar; mas a grande
maioria, principalmente dos que saíram da nossa igreja, estão lá de raiva, por pirraça,
e não voltam atrás por teimosia.”
"Estudei o movimento da reforma nas suas origens e nos seus variados
ramos. Deus está dirigindo esses movimentos tanto quanto está dirigindo os pentecostais,
os testemunhas de Jeová, os promessistas e outros movimentos semelhantes.”
"Um adventista jamais deixaria sua igreja para se enfiar numa
arapuca dessas! Então o diabo fez um arremedo da verdade, criando a reforma, para
atrair os incautos e aqueles que desejam mais luz sem obedecer à luz que
possuem. O reformismo deu para mim, como para todos os que saíram da igreja, a
impressão de ser uma luz mais brilhante, uma verdade mais pura, um movimento
mais santo, quando na realidade é um movimento de rebelião originado por aquele
que não se firmou na verdade, que é mentiroso e pai da mentira, o mesmo ser que no Céu se levantou contra Deus e que no
deserto levantava os príncipes e os maiorais da congregação contra o ungido do
Senhor.”
"Prova irrefutável de que isto é verdade, são as divisões que surgem
entre eles e a visível desaprovação divina pela ausência da harmonia, da paz,
da compreensão, do amor e do progresso que não existem entre eles.”
"A reforma só cresce para baixo, como os galhos do chorão, e se
multiplica dividindo-se.”
"A associação geral dos diversos movimentos muda de cá para lá, como
cuia de chimarrão na roda do chá.”
"Cada chefe que é apeado do poder sai a cavalo aos pinchos, num
movimento novo. Ninguém se conforma em perder cargos e vantagens.”
"Não estou inventando estórias, não senhor. Quem duvidar do que
estou dizendo, leia o 'Livro do Pecado' do Sr. Nicolici. O que está escrito
ali, dá para convencer qualquer cabeçudo de que a reforma não é coisa boa nem tem
boa origem.”
"Convenci-me disto no primeiro ano que estive lá, mas fui me aguentando
para ter tempo de examinar direitinho e assim tomar uma resolução da qual jamais
viesse a me arrepender.”
"E à resolução foi tomada, pastor! Volto para a igreja curado do
farisaísmo e de toda justiça própria, certo de que a reforma jamais me iludirá.”
"Estou convicto de que na igreja existem fraquezas e pecados, mas
Deus no Seu amor me tem convencido de que entre todos eu sou o principal: entre
os fracos, sou o mais fraco; entre os necessitados, o mais necessitado; e dou
graças a Deus por este sentimento novo que tomou posse do meu coração.”
"Houve uma época em que nossa igreja resvalou à beira do precipício do
legalismo, mas Deus suscitou entre nós homens que se ergueram e trabalharam para pôr as coisas no seu devido lugar, e assim, a justificação pela fé
baniu do nosso meio a repugnante doutrina da justiça própria.”
"Ao reformismo esta tragédia não foi poupada! Como o fariseu de
outrora, eles ainda hoje oram e dizem em atos e palavras: 'Graças Te dou, ó Pai, porque não sou como os demais homens!”
"Mas todas essas exterioridades como um fim, como sucede na reforma,
e não o resultado de uma integridade interior, são a maior falseada religiosa que
conheço!”
"Cinco anos passei lá, pastor, vendo e ouvindo barbaridades, e agora
sei por experiência até que ponto pode ser ruinoso o extremismo.”
"Foram anos mal vividos. Anos carregados de ódios, de críticas, de maledicências,
de acusações, em que vivi colecionando recortes de revistas adventistas e
abarrotando pastas de livros sublinhados em pontos estratégicos para golpear
meus irmãos! Anos que o gafanhoto comeu; em que não ganhei uma alma para Cristo, em que raras vezes pronunciei o Seu nome!”
"Sei o que me espera pela frente ao ter que enfrentar lobos vestidos
de peles de ovelhas, mas Deus há de me dar forças, e não esmorecerei.”
"Discutir com reformistas é duro, pastor!”
"É como usar uma faca afiada para demolir pedreiras. Não que eles
sejam mais versados na Bíblia ou no Espírito de Profecia, e, sim, porque não
temem usar os recursos daquele que é mentiroso e pai da mentira!”
"Entrincheirados por detrás dos Testemunhos, com ares de guia de cegos,
são capazes de varar noites após noites atirando lama contra a igreja de Deus,
sem perceber que eles mesmos estão todos enlameados.”
"Hoje, graças a estes cinco anos que convivi com eles, sei como
enfrentá-los, mas só o faço por extrema necessidade, porque ouvi-los em suas arengas,
é decrescer na fé, na esperança e no amor. É cortar pedra com faca afiada.
Prefiro trabalhar silenciosamente com aqueles que, como eu, estão sendo
iludidos, ludibriados pela aparência enganosa do casarão velho, carcomido,
caiado de novo, com ares de confortável residência, que se chama Reforma!”
"Eu é que sei dos ratos e morcegos que vicejam por lá! Eu é que sei
das vigas podres que sustentam o edifício; dos caibros corroídos que pendem
impotentes! Conheço seus fundamentos esfaqueados na areia, e senti o bafio do mofo,
que se levanta dos seus porões encharcados.”
"Posso, com o auxílio de Deus, evitar para muitos os sofrimentos e angústias por que passei".
— Bem, irmão X, percebo quão radical foi a sua transformação! Hoje, o
irmão não é mais aquele bicho-papão, aquele golias que atemorizava e ameaçava nossos arraiais. Vejo em sua face, em
suas palavras, aquela serenidade que dá testemunho de uma experiência mais
profunda, mais racional . . . Conte-nos como foi que achou o caminho de volta e
como afinal se converteu.
— Ah! pastor, a história é longa e triste.
Não consigo recordar toda essa
miséria sem sentir um fogo dentro de mim. Não guardo rancor de ninguém, mas não posso perdoar a mim mesmo, por ter sido tão simplório, caindo
nessa arapuca!
"Logo que entrei para a reforma, senti-me como que transportado ao paraíso,
tal o sentimento de alegria que tomou posse de mim. Mas foi só a sensação da
mudança, porque, dias depois, caía na realidade e me sentia profundamente
infeliz.”
"Gostava do ambiente, deliciava-me com as críticas e procurava
imitar meus parceiros, reformando os outros, mas eu mesmo sentia-me cada vez mais
deformado.”
"Os reformistas, pastor, fazem uma força imensa para se convencerem
de que possuem a verdade, mas poucos entre eles estão realmente convencidos disto.”
“Eles contemplam a marcha à ré que vêm dando através dos anos, miram o rastro sinuoso que ficou gravado na estrada do tempo, e sentem no íntimo que
estão recalcitrando contra os aguilhões!”
“É verdade que há em todos eles um simulacro de alegria, mas no âmago da
alma todo reformista é antes de tudo um triste.”
“A igreja da reforma é triste, pastor! Triste como um claustro
abandonado, e vazia como a solidão monótona de um deserto.”
"O único fogo que ainda os aquece, a única chama que ainda bruxuleia
em suas reuniões áridas é o pique contra a igreja grande! Não fosse isto, há
muito eles já se teriam diluído e desaparecido na voragem do tempo.”
"Bem, não devo alongar-me mais expondo os sentimentos e os fatos que
vi por lá. Deixem-me apenas contar como e por que voltei.”
"Foi num sábado pela manhã. Nosso grupo da reforma havia programado realizar
a Escola Sabatina no sítio do irmão... e passar o dia por lá.”
"Como não me sentisse com entusiasmo para enfrentar a carroceria de
um caminhão e os solavancos da estrada cheia de buracos, resolvi ficar em casa
lendo a Bíblia e trocando ideias com a esposa, sobre a nossa vida, que passo a
passo estava sendo deformada pela reforma.”
"Fizemos a Escola Sabatina com as crianças, cantamos um hino sem
muita vontade e então saí para dar uma volta pela cidade, sozinho, com meus pensamentos.”
"Andei sem rumo, vagando de praça em praça, até que em dado momento me
encontrei defronte da "igreja grande". Eram quase onze horas da manhã
e o sermão por certo já havia começado, pensei. Quis entrar, mas a coragem
faltou. Virei nos pés e comecei a me afastar ligeiro”.
"Antes, porém, de chegar à esquina, estaquei. Por que não vou lá ver
o que esses apostatados estão dizendo? Medo, por quê?”
"Sem mais hesitar tomei o rumo da igreja e fui entrando. Passei pelo
diácono que me conhecia, o qual olhou-me assustado. Um irmão estranho apontou-me
um acento vago, ao seu lado, onde me assentei.”
"O sermão já ia a meio e o pregador não parecia ser muito capaz. Mas
enquanto ele falava sobre o gozo que a salvação traz a um homem perdido, eu senti
um estremecimento.”
"Suas palavras, como setas dirigidas por Deus, feriram meu coração.
Eu que sempre me vangloriei de ser duro e que vivi condenando os chorões, sem o perceber, estava ali com o lenço molhado, chorando, sem poder me
conter.”
"Antes da bênção final, misturei-me aos fujões e dentro de alguns
minutos estava em casa, com o coração aos saltos. Minha esposa estava com o
almoço na mesa, servindo as crianças, quando entrei sem disfarçar a alegria que
inundava meu ser:
— Querida — disse. — Vamos voltar!
— Para onde? — perguntou ela assustada.
— Vamos voltar para o nosso povo, para a nossa igreja, para o nosso Deus. Chega de reforma!
— Que aconteceu, querido? Que houve?
— Estive lá! Senti o gozo do que significa ser salvo! Não quero mais nada
com essa reforma deformante. Reforma que depreda, que solapa, que calunia!
Reforma de apedrejamentos, de críticas, de acusações e embustes que não têm
fim! Estou cansado, querida! Cinco anos faz que estamos com pedras nas mãos,
atirando contra nossos irmãos. Chega!
"Minha esposa estava atônita, de olhos arregalados, procurando
adivinhar meus pensamentos. Por fim, depois que lhe contei toda a história e
minha decepção pela reforma, ela, em soluços me respondeu:
— Querido, faz cinco anos que venho orando por esse momento! Nunca lhe
disse nada para não magoar-lhe o coração, mas já que você me expõe com
franqueza seu desejo de voltar, eu também quero lhe dizer que essa é a maior
resolução da nossa vida! Voltaremos para nossa igreja! Voltaremos para o nosso
povo! Querido, isto é felicidade demais!
"E foi assim, pastor, que nós voltamos. Alguns irmãos ainda olham
desconfiados para nós, temendo segundas intenções; muitos, porém, já nos receberam de
braços abertos, confiantes em nossa sinceridade.”
"Se esses que duvidam soubessem dos nossos sentimentos pela igreja
de Deus e o que restou em nosso coração pelo moderno reformismo, jamais teriam coragem
de nos tratar assim!”
"Conte, pastor, a nossa história! Quem sabe, em algum ponto desta Terra,
no momento preciso, nossa experiência sirva para ajudar alguém".
Escrito por Benito
Raymundo
Revista Adventista agosto de 1975
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