Por que deixei a "Reforma"


Testemunho de Helmuth Shneider - ex-pastor da SMIASD-MR no Brasil na década de 60.

Dou graças a Deus por me haver tocado o coração com Seu Espírito, não nos deixando em confusão.

Desde que me entendo por gente, fui reformista. Eu não sabia outra coisa senão que a Igreja Adventista era uma igreja
apostatada e que o Movimento da Reforma era a verdadeira Igreja de Deus. Só ouvia falar na apostasia da Igreja Grande e que a Reforma era um movimento profético.


Foi em 1951, quando ainda muito jovem, que ouvi de uma separação no Movimento de Reforma. Chegou-me às mãos uma carta, dizendo que o irmão Kozel e outros mais haviam apostatado e que ocorrera uma separação. Começaram agora também horríveis e tremendas lutas de reformistas contra reformistas, pois este movimento dividiu-se, formando duas Associações Gerais, dois movimentos completamente distintos, mas ambos se referindo à sua origem em 1914. As acusações mútuas eram as mais vergonhosas, dividindo famílias, igrejas, o que levou muitos a perderem a fé.

Em 1953, houve a divisão da Reforma na igreja do Cambira, Apucarana, Paraná. Desde então havia naquele lugar três grupos que guardavam o sábado. Muitas vezes, esses grupos se encontravam a caminho da Escola Sabatina, e surgiam fortes discussões.

O irmão Emílio Döhnert, dirigente de um pequeno grupo de adventistas na localidade, procurou provar que esses movimentos não eram amparados por profecias e que só havia fundamento profético para a Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Os anos se passaram, e só mais tarde pude entender que o irmão Döhenert tinha razão.

Desde 1953, o irmão Albert Muller dirigia o Movimento da Reforma, ou melhor, o movimento kozelita, no Brasil. Fui estudar na Alemanha, em 1956. Dois anos depois, ao concluir os estudos na escola missionária da Reforma, estava convicto de que o movimento do irmão Kozel era verdadeiro. Nesse tempo conheci a minha esposa. Em 1958, voltamos ao Brasil. O Sr. Dagoberto Molina, pastor reformista, dirigia a Obra (movimento kozelita) no Brasil. Éramos poucos em número, mas grandes em planos. Queríamos conquistar os adventistas e os reformistas nicolicitas, assim chamados por pertencerem ao movimento de D. Nicolici.

Foi então que fomos morar na Cidade Patriarca, na Capital Paulista. E sempre estávamos convictos de que estávamos fazendo a obra de Deus. Procurávamos obter endereços para visitarmos as famílias. Auxiliava-nos nesse trabalho o Sr. A. Graviotto e, em época de conferências, até mesmo o Sr. Kozel. Havia polêmicas e discussões que se estendiam de 10 a 16 horas por dia, com vergonhosas acusações de ambos os lados. O esforço também não ficou sem êxito.

Em 1962, fui ordenado pastor pela Igreja da Reforma. Pouco depois, foi adquirido um terreno em Vila Ré, na capital paulista, para a construção de uma igreja. Os poucos irmãos que havia fizeram grande sacrifício, especialmente os de Cambira. Mas grande parte dos meios para a construção foi subvencionada por irmãos da Alemanha. Durante as cerimônias de inauguração, fui eleito presidente da Associação Brasileira dos Adventistas do Sétimo Dia — Movimento de Reforma Original de 1914. Auxiliado pelo Pastor Dagoberto Molina, obreiros e colportores, estendemos o trabalho a diversas partes do país: Rio de Janeiro, Juiz de Fora, Uberlândia e Goiânia. Estávamos sempre, em nossas viagens, com uma pesada mala cheia de documentos e fotocópias, e não receávamos encontros com os outros reformistas.

Vencido meu mandato como presidente, fui reeleito. O meu estado de saúde, porém, tornou-se precário. Pedi férias por três meses e vim com minha família para a Alemanha. Voltei, pouco depois, para o Brasil. Como meu estado de saúde era precário, pedi transferência para a Alemanha.

Nessa ocasião, um grande número de irmãos da igreja do Cambira, em Apucarana, decidiu-se pela Igreja Adventista. Não pude compreender tal atitude.

Na Alemanha fiquei quase um ano sem poder trabalhar. Quando melhorei, fui novamente chamado a trabalhar na obra. Fui varias vezes a Portugal, acompanhando pastores, como intérprete.

Em Portugal tinha-se unido novamente um grupo com mais de 100 almas ao Movimento da Reforma, as quais, em 1948, haviam-se separado da Reforma, encabeçados pelo Sr. Rick, e afirmavam ser eles a verdadeira igreja de Deus. (O Sr. Rick separou-se por não ter sido eleito presidente da Associação Geral em 1948, e, assim, fundou para si uma nova igreja, tendo bons exemplos desde 1914).

De três em três meses, eu ia a Portugal e à Espanha. Houve nesse tempo um grande descontentamento entre os reformistas na Europa, especialmente na Alemanha. E muitos começaram a estudar com maior cuidado os testemunhos do Espírito de Profecia. Eu mesmo mudei o meu sistema: não mais com aquela lente reformista. Lia-os agora em conjunto e não mais uma linha aqui e outro trecho acolá.

Como mencionei anteriormente, mudei meu sistema de estudar os testemunhos da irmã White. Cheguei à conclusão de que muitos deles eram por nós reformistas mal aplicados e mal interpretados. Falei com vários amigos e pastores sobre o meu pesar, sem, todavia, duvidar do Movimento da Reforma, apesar de ter visto centenas de reformistas indo para a Igreja Adventista. Muitas vezes me sentia inquieto. Procurava, nessas ocasiões, ver os defeitos da Igreja Adventista. Vários amigos, e mesmo familiares, já se haviam decidido pela Igreja Grande.

Certo dia, em Portugal, fui à Editora Adventista. Ali, muito bem atendido, perguntei se havia livros novos ou recém traduzidos, da profetisa . Meus olhos logo caíram sobre os volumes de Mensagens Escolhidas e outros mais que eu ainda não possuía. Comecei a ler. Entretanto, como pastor reformista, duvidei da tradução. Fui a um amigo que tinha os volumes em inglês, e comparamos página por página, mas tudo concordava, até mesmo as páginas. Isto tocou-me o coração. Falei com os irmãos dirigentes, meus superiores, e disse-lhes que eu não podia continuar como pastor reformista em virtude de ter dúvidas quanto ao movimento. Citei Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 66: "A mensagem que declara a Igreja Adventista do Sétimo Dia Babilônia, e chama o povo de Deus a sair dela, não vem de nenhum mensageiro celeste, ou nenhum instrumento humano inspirado pelo Espírito de Deus". Na página seguinte li: “Direi no temor e amor de Deus: Sei que o Senhor tem pensamentos de misericórdia para restaurá-los de todas as suas prevaricações. Ele tem uma obra para a Sua igreja fazer. Eles não devem ser declarados Babilônia, mas o sal da terra , a luz do mundo . Devem ser mensageiros vivos para proclamar uma mensagem viva nestes últimos dias". Li também trechos das páginas 69 e 406. O último, por exemplo, diz: "Sou animada e beneficiada ao compreender que o Deus de Israel ainda guia Seu povo, e que continuará a ser com eles até o fim". Estas foram as palavras da profetisa à Assembleia da Associação Geral de 1913. Ora, como é possível que Deus, um ano mais tarde, tenha rejeitado a Sua igreja, como dizem os reformistas?

Estes e outros testemunhos me tiraram os fundamentos reformistas de debaixo dos meus pés. E por não mais poder defender o Movimento de Reforma e por reconhecer que é um movimento sem profecias, o qual não pude defender em sã consciência, renunciei a meu cargo. Não fui deposto de meu cargo; renunciei-o voluntariamente e, continuando, todavia, por algum tempo como membro, aprofundando-me cada vez mais no estudo da Bíblia e dos Testemunhos.

Minha esposa e filha já se haviam decidido pela Igreja Adventista. Entretanto, chegou o momento em que não mais tive paz no coração. E, na minha última pregação no Movimento de Reforma, apresentei as profecias do Espírito de Profecia de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia permaneceria como Igreja até o fim, sim, até a volta de Jesus. E disse que, se aceitássemos a irmã White como uma profetisa enviada por Deus, não poderíamos duvidar da Igreja Adventista como Igreja de Deus. Há muito que eu esperava ser excluído do Movimento de Reforma, mas, como os líderes de lá não faziam nada nesse sentido, vi a indecisão deles, que me pareceu sintomática.

Poderia citar muitos testemunhos. Mas meu apelo é dirigido a todos os irmãos reformistas, tanto de um como de outro partido, para que abandonem essa tremenda luta de supremacia entre uns e outros, e, de maneira especial, que deixem de trabalhar contra os Adventistas, pois quem luta contra a Igreja Adventista , luta contra Deus.

"Debilitada e defeituosa, necessitando constantemente ser admoesta e aconselhada, a igreja é, não obstante, o objeto do supremo cuidado de Cristo". — ME, vol. 2, p. 380.

Faz um ano e meio sou membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, após 38 anos de Reforma.

São muitos os reformistas que deixaram aquele arraial. Mas, especialmente, sinto-me feliz por meus familiares - minha esposa, pais, irmãs, cunhado e sobrinhos que vivem em Ubiratã, Paraná, os quais como família estão unidos em torno da verdadeira Igreja.

Aqui na Europa, centenas de reformistas já abandonaram o movimento espúrio e hoje são membros de nossa Igreja. Dos pastores que conheço, nove estão conosco agora.

Faz dois anos que, pontualmente, recebo a Revista Adventista, editada no Brasil. Grande foi minha alegria ao ler sobre o despertamento que está ocorrendo entre os reformistas brasileiros. Li, com emoção, os artigos dos irmãos E. Kanyo, J. Laerte Barbosa, Cyro Erthal, Wilmur Medeiros e outros.

Faz pouco tempo, mais três famílias amigas, aqui da Alemanha, deixaram a Reforma. Não posso deixar de mencionar como o Espírito Santo está operando em Portugal, pois ali vários irmãos também fizeram sua decisão. Oremos, com sinceridade, pelos irmãos que ainda estão enganados. — Helmuth Shneider — 71 Heilbronn —Keiserslauternerstr. 43, Germany.

Fonte: Revista Adventista setembro/outubro/novembro de 1975

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