Querida
irmã: Vejo, no que respeita ao casamento de sua filha com Walter C, o motivo de
sua aflição. Esse casamento, porém, teve lugar com seu consentimento, e sua
filha sabendo tudo que a ele dizia respeito, aceitou-o como esposo, e agora não
posso ver nenhuma razão por que você se preocupa com a questão. Sua filha ama
a Walter C, e pode ser que esse casamento esteja no desígnio de Deus para que
tanto Walter como sua filha tenham mais preciosa experiência cristã, e sejam
edificados nos pontos em que são deficientes. Sua filha se comprometeu com
Walter C em casamento, e romper os votos
Você
diz que Walter estava noivo de alguma jovem em Topeka. Não posso falar a tal
respeito, pois não ouvi as razões de Walter para haver rompido o noivado, se é
que ele o fez. Eu conhecia pessoalmente seu anterior relacionamento com sua
primeira esposa, Laura. Walter amava Laura muitíssimo; ela, porém, não era
digna de sua afeição. Ele fez tudo ao seu alcance para ajudá-la, e procurou
por todos os meios possíveis conservá-la como esposa. Não poderia haver feito
mais do que fez. Eu pleiteei com ela, e procurei mostrar-lhe a incoerência de
sua atitude, e roguei-lhe que não se divorciasse; ela, porém, estava
decidida, deliberada e obstinada, e queria seguir seu próprio caminho. Enquanto
ela viveu com ele, procurou obter dele todo o dinheiro possível, mas não o
tratava bondosamente como uma esposa deve tratar a seu marido.
Direito
à Felicidade. Walter não deixou sua esposa. Ela o deixou e separou-se dele, e se
casou com outro homem. Não vejo nada na Escritura que o proíba de tornar a casar-se
no Senhor. Ele
tem direito à afeição de uma mulher que, sabedora de seu defeito físico,
decide devotar-lhe seu amor. Chegou o tempo em que ser estéril não é a pior
coisa que pode ocorrer a alguém. Vejo esposas que deram origem a uma grande
família, e agora se encontram incapacitadas de prover-lhe a devida atenção.
Essas mulheres nem chegam a conseguir recuperar-se de uma gestação, e já estão
envolvidas noutra.
Muitas
dessas mulheres são esposas de homens pobres, que não possuem recursos
suficientes para dar sustento à sua crescente família, e presentemente eu os
estou ajudando a alimentar, vestir e educar seus filhos. Entretanto, a despeito
de sua incapacidade em sustentar os filhos, novas crianças são trazidas ao
mundo tão rápido quanto possível. Deus não aprova tal procedimento.
Os
maridos dessas mulheres parecem pensar que as esposas não servem para qualquer
outro propósito a não ser a satisfação de suas paixões sensuais. Filhos são
trazidos ao mundo tão rapidamente, responsabilidades acumuladas em tal
velocidade, que as esposas e mães não têm chance de cultivar a mente, nem
dispõem de tempo ou oportunidade para devotar à obra religiosa. Deus não é
glorificado em tais famílias.
Muitas
de nossas jovens missionárias se casam, e em poucos meses têm crianças para
cuidar, necessitando afastar-se do campo missionário. Você deve alegrar-se
porque sua filha não será estorvada em seu trabalho para o Mestre. Poderá
acompanhar o marido em suas viagens e ser-lhe de ajuda; quando permanecer no
lar, poderá servir ao Senhor como se não fosse casada. Este é o meu ponto de
vista.
Tenho
confiança em Walter e acredito ser ele um cristão. Tive a ocasião de observar
algo a respeito da têmpera de seu espírito ao longo das provas que enfrentou
com a primeira esposa. Ela tentou extorquir-lhe dinheiro quando percebeu que
tinha vantagem sobre ele, e ele esteve disposto a fazer dez vezes mais do que
seria direito dela esperar, ou ser seu dever realizar. Ele suportou enormes e
duras provas por causa dela. Tentei ajudá-lo de todas as formas possíveis.
Procurei
levar Laura a ver e compreender o seu dever. Entretanto, havendo adotado a
conduta que adotou, não posso ver que esta nova união deva ser perturbada. É
uma questão séria separar um homem de sua esposa. Não há nenhuma base bíblica
para dar tal passo nesse caso. Ele não a deixou, foi ela quem o deixou. Ele
não tornou a casar-se até que ela obteve divórcio. Quando Laura se divorciou
de Walter, ele sofreu profundamente, e não foi senão depois de Laura casar-se
com outro homem que Walter tornou a casar-se. Aquela que ele escolheu,
estou certa de que será um auxílio para ele, e ele pode ser uma ajuda para ela.
Walter
não é perfeito em caráter. Possui
algumas características objetáveis. Foram-lhe confiados recursos, e nem sempre
ele os emprega da melhor maneira. Por vezes tem sido pródigo com seu dinheiro,
outras vezes muito mesquinho em seu uso, ou severamente econômico. Mas uma boa esposa,
temente a Deus, a seu lado, estará apta a adverti-lo a não proceder
impulsivamente, e a aconselhá-lo a colocar seu dinheiro no tesouro do Senhor.
Walter
se encontra em posição de responsabilidade, mas se os membros da família à qual
se ligou mediante o casamento se provarem verdadeiros para com ele, exercerão
uma influência que o levará a tornar-se fiel mordomo dos bens do Senhor.
Disporá então de seus bens como que à vista de todo o universo celestial. Não
participará de esquemas ilegais para ganhar dinheiro, antes fará tudo tendo
como objetivo a glória de Deus. Evitará todas as artimanhas e se esquivará de
todos os meios mesquinhos e desonestos, e nada fará que seja contrário ao
cultivo da verdadeira piedade. Compreenderá que todas as suas transações estão
sob o escrutínio de Deus.
Não
devemos perder de vista o fato de que o mordomo deve negociar com os bens de
seu Senhor, e que desempenha sagrada responsabilidade. A Bíblia requer que os
homens comprem, vendam e façam todas as suas transações comerciais sob profundo
senso de suas obrigações religiosas, tal como se estivessem apresentando petições
ao Pai celestial, suplicando força e graça. O Senhor não deixou a cargo de
qualquer pessoa proceder como bem lhe pareça com seus bens, ou conforme lhe
dite o impulso, ou conforme o demandem seus amigos. O dinheiro que a pessoa
maneja não lhe pertence, não devendo ser gasto desnecessariamente, pois a vinha
do Senhor precisa ser trabalhada, e tal trabalho requer o concurso de meios. Agora
é o nosso dia de oportunidade, sendo que se aproxima o ajuste de contas. O
Senhor confiou recursos a Seus servos para que sejam usados sabiamente, pois
todos são agentes morais e deles se requer que assumam responsabilidades. Nossos
vários talentos são concedidos na proporção de nossa habilidade em usá-los, mas
não devemos aplicá-los meramente para satisfazer desejos egoístas, tal como
possam ditar as inclinações.
Walter
C fracassou, por vezes, no passado, ao manusear os bens do Senhor, e nem sempre
levou em conta que deveria dispor dos bens confiados a seu encargo de tal forma
que agradasse ao Mestre e contribuísse para o avanço da causa da verdade.
Deverá prestar contas do modo como utiliza os bens que lhe foram entregues. Não
deve considerar a própria vontade neste aspecto. Necessita buscar sabedoria de
Deus. Não desejo que Walter coloque contra a sua vontade um único dólar neste
campo sem recursos, pois ofertas efetuadas de modo compulsório não trazem
consigo a bênção de Deus. Não insisto neste aspecto e não desejo forçar quem
quer que seja a doar dinheiro, mesmo que destinado à obra de Deus.
Deus
tem uma obra a realizar, e estou nela empregando todos os recursos que consigo
economizar, além de prover-me de casa, meios de vida e comodidades comuns.
Existem outros que alegre e voluntariamente me ajudam nesta parte da vinha do
Senhor. Se todos realizarem seu dever de acordo com a medida de suas responsabilidades,
o montante a eles confiado duplicar-se-á. Aquele que devolve a Deus o que Lhe
pertence, será honrado por sua fidelidade e ouvirá o Mestre dizer-lhe: “Bem
está, servo bom e fiel.” Mat. 25:21. Entretanto, não é adequado que as pessoas
se limitem a dar unicamente quando sentem o impulso de fazê-lo. Cristo tem
direito a tudo quanto possuímos.
Você
não deve surpreender-se de que Walter não se sinta à vontade em ajudar o seu
filho. Se este não apreciou as oportunidades e privilégios que teve, se aplicou
mal os próprios recursos e desperdiçou os talentos que Deus lhe confiou, a
questão agora é: Procederá ele melhor numa segunda oportunidade? Aprendeu as
lições que Deus tentou lhe ensinar? Existem muitas preciosas almas que muito
apreciariam a oportunidade de receber educação, que não desperdiçarão
oportunidades, antes utilizarão toda a sua aptidão em adquirir conhecimento
com o qual empreenderão o bem.
Sinto-me
surpresa em saber que Walter não atendeu ao pedido que você fez, sendo a mãe da
esposa a quem ele ama. Talvez ele esteja aprendendo a ser cauteloso, levando a
sério as lições do passado. Ajudou muitas pessoas que não era seu dever
ajudar. Você deve considerar a recusa dele em dar-lhe dinheiro, como evidência
de sua sinceridade em não comprometer-se para ganhar seu favor. Tenho certeza
de que Walter pretende cumprir seu dever. Os equívocos que cometeu, concedendo
muito dinheiro aos familiares de sua primeira esposa por certo lhe ensinaram a
não repetir a experiência. Espero que o fato de ele haver recusado dar-lhe
dinheiro, para que seu filho se dirija a Battle Creek ou ao Union College, não
a levem a ter preconceito contra ele. Este fato não deve ter tal influência.
Se
sua filha ama Walter C, não vejo nada na Palavra de Deus que exija que ela se
separe dele. Como você pediu meu conselho, dou-o francamente. Se Walter lhe
houvesse dado o dinheiro solicitado, não poderia isto ser visto como uma
tentativa dele em comprar o seu favor? Não seria muito mais adequado que o seu
filho trabalhasse e ganhasse por si mesmo o dinheiro, cuidasse da própria
educação, e não dependesse de qualquer pessoa para tal favor? Pode acontecer
concedermos ajuda imprudente a nossos filhos.
Aqueles
que trabalham para pagar seus estudos valorizam mais as vantagens obtidas do
que aqueles que têm suas necessidades supridas por outros, pois sabem quanto
lhes custa. Não devemos conduzir nossos filhos até que se tornem uma carga
inútil. Eduque seu filho a ser diligente, capaz de sustentar a si mesmo e de
ajudar outros.
Deus
é o proprietário do Universo. Cada homem, mulher e criança, com todo o tempo e
talentos que lhes foram concedidos, pertencem a Deus. Deu Ele habilidades aos
homens a fim de usá-las para Sua glória, e assim tenham crescente capacidade,
sabedoria e compreensão. Deus tem reclamos em relação a cada alma, e somos
agentes responsáveis, devendo oferecer-Lhe constante serviço. Devemos
consagrar a Seu serviço corpo, alma e espírito, e empreender as coisas que
levarão avante a Sua obra na Terra. É aqui que devemos realizar a Sua Vontade.
Nosso prazer não deve ser consultado, nem deve ele tornar-se o impulso
governante.
Pois
bem, minha querida irmã, enviar-lhe-ei esta carta e também uma cópia a Walter C.
Desejo desempenhar em relação a ele o papel de mãe. Em tempos de aflição ele
necessitou de orientação materna. Todo centavo que colocou em minhas mãos foi
utilizado para a salvação de almas que perecem, e ao chegar o devido tempo,
possa ele ter a experiência de ouvir dos lábios do Mestre: “Muito bem, servo
bom e fiel... entra no gozo do teu Senhor.” Mat. 25:21.
Sinto-me
verdadeiramente triste porque você tomou sobre os ombros fardos desnecessários.
Não percebe que ao separar sua filha de Walter C poderá estar criando dois
males em vez de corrigir um? Sua filha casou-se com Walter, e não existe razão
para separá-la dele. Você não tem desculpa justificável para desejar interrompê-los
de trabalhar e viver juntos como marido e mulher. Você poderá dar publicidade
aos boatos que lhe chegam aos ouvidos, tornando-se assim o meio pelo qual você
mesma, sua filha e Walter se sintam miseráveis. Deixe que os dois, como filhos
de Deus, unam seus interesses segundo os seus votos matrimoniais requerem que
o façam; permita que se consagrem a Deus e cumpram a Sua vontade, sendo vasos
de honra, aptos a serem usados pelo Mestre.
De sua parte, proceda
como deve fazê-lo uma fiel mãe. Seja sábia em seus conselhos e ajude-os em
tudo quanto esteja a seu alcance. Sabendo que todos vocês
pertencem a Deus, proceda justa e amoravelmente com ambos. Seja franca e
amável; cultive a integridade plena da alma, e receberá uma coroa que não
desaparecerá. Tenha perfeita confiança em Deus, e Ele a abençoará, dando-lhe paz
e repouso. - Carta 50, 1895.
Testemunhos sobre conduta sexual, adultério e divórcio, páginas 67 a 74
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