Ellen White e o caso de William E

Aqui está todas as cartas e decisões tomadas pela igreja adventista e Ellen White sobre o caso de um ex-pastor adúltero que foi aceito novamente na igreja e casado com a terceira mulher com quem se envolveu.

Esse texto se encontra no livro "Testemunhos sobre conduta sexual, adultério, e divórcio" de Ellen White, publicado pela Casa publicadora brasileira. E infelizmente não tem no cd room de EGW e nem no site Ellen White Books, mas somente nesse livro, por isso o digitalizei para os interessados em se
aprofundarem no assunto a luz do espírito de profecia.

William E (Parte I)

[William E nasceu em Melborn, Quebec, em 1856. Depois de frequentar o colégio de Battle Creek, trabalhou como pastor ou colportor em Michigan, Illinois, Indiana, Tennessee e Alabama.


Seu primeiro casamento terminou em divórcio, depois do qual ele se tomou pai de uma criança sem haver-se casado com a mãe da mesma. Em 5 de agosto de 1892, casou-se com uma terceira mulher, que continuava em sua companhia quando ele faleceu em 1934.

Em 1901 o pai e o irmão de William E insistiram em que ele se divorciasse da esposa e retornasse a uma das companheiras anteriores. Sua primeira esposa casara novamente, mas a segunda mulher, com quem ele tivera a filha ilegítima, estava ansiosa por casar-se com ele.

Edson White escreveu à mãe em 30 de outubro de 1901, perguntando se seria necessário que o irmão E se separasse da sua atual esposa de modo a poder acertar as coisas com Deus. O que segue é a resposta de Ellen White.]

Li agora mesmo sua carta concernente a William E. Vejo o assunto sob a mesma luz que você, e penso ser algo cruel e maligno que o pai de William E tenha assumido a posição que assumiu, mas não me atrevi a responder-lhe as cartas. Se alguma coisa deve ser repassada de mim para ele através de você, diria que a situação de William E não será melhorada se ele deixar a atual esposa. Não melhoraria as coisas se ele voltasse para a mulher em questão. ...

Não tenho escrito a William E, mas sei que se o pai se arrependesse diante de Deus e retomasse às primeiras obras, deixando de considerar a si mesmo como estando em condições de ajudar o filho, poderia fazer-se a pergunta: “Está o meu nome escrito lá, numa página branca e bela?” Ele poderia muito bem começar humilhando-se perante Deus, deixando William Wales com Deus.

Que o pai e o irmão façam diligente obra em favor de si mesmos. Ambos necessitam do poder convertedor de Deus. Que o Senhor ajude estas pobres almas a remover as manchas e impurezas do próprio caráter, e a se arrependerem de suas más ações, deixando William E com o Senhor.

Sinto-me triste pelo homem, pois a sua conduta assumiu tal forma que parece não haver modo de melhorá-la, pois existem dificuldades sobre dificuldades. Ouso dizer que o Senhor compreende a situação, e se William E buscá-Lo de todo o coração, será encontrado por Ele. Se fizer seu melhor, Deus lhe perdoará e o receberá.

Oh, quão precioso é saber que temos Alguém que tudo conhece e compreende, e que ajudará aqueles que mais necessitam de auxílio! Mas a reprovação divina acha-se sobre o pai e o irmão que estão agindo no sentido de destruir e fazer perder-se aquele que, diante de Deus, não se encontra sob pior condenação que eles mesmos, mas que ainda assim usam seus talentos para desencorajar, desanimar e conduzir William E ao desespero.

William E deve esperar em Deus e fazer seu melhor a fim de servi-Lo humildemente, lançando sua desajudada alma sobre o grande Portador de pecados. Não escrevi uma única palavra, quer ao pai, quer ao irmão. Gostaria alegremente de fazer algo para ajudar o pobre William E a endireitar as coisas, mas isto não é possível do modo como as coisas agora estão, sem que alguém seja prejudicado.

Entendo perfeitamente a situação entre William E e sua primeira esposa. ... E sei como o caso terminaria, pois William E não suportaria ser um escravo, com sua identidade perdida na de uma esposa que se julgou juíza da consciência dele, de seus deveres e de seu trabalho em geral. - Carta 175, 1901.

William E (Parte II)

[No dia 15 de agosto de 1911, o Pastor C. F. MeVagh, presidente da Southern Union Conference, escreveu a W. C. White:

“Estimado irmão: No Alabama, os oficiais da Associação encontram-se muito perplexos acerca do caso de William E, e foi-me solicitado que escrevesse pedindo uma cópia daquilo que foi escrito [pela Sra. White] no tocante às atividades desse irmão como pastor, e também conselho para a atual situação, ou instruções do Senhor. Você está familiarizado com o passado desta pessoa. Sua vida tem sido reta, tanto quanto saibamos, durante vários anos, e ele se tem dedicado a vender livros e Bíblias. Entretanto, ele sente sobre si a responsabilidade de pregar, e aonde quer que vá logo aparece a oportunidade de fazê-lo. Possui maravilhosa habilidade e logo surgem interessados. Ele apresenta evidências exteriores de profunda consagração e as pessoas aceitam a verdade apresentada por ele.

“Há pouco mais de um ano ele se mudou para Birmingham, Alabama, e dentro de pouco tempo estava tomando parte ativa nos serviços da igreja. Nesta ocasião a igreja se encontrava muito debilitada. Ele se tornou ancião, e logo iniciou algum trabalho e diversas famílias demonstraram interesse. Este cresceu e durante o inverno ele conduziu reuniões nas noites de domingo, num teatro, e a frequência foi grande, havendo alguns se decidido pela verdade. Ele possui a confiança dos membros da igreja, os quais naturalmente se sentem muito estimulados; assim, pelo fato de ele devotar muito de seu tempo cuidando dos interessados (trata-se de um obreiro infatigável), a comissão da Associação votou conceder-lhe um auxílio semanal de oito dólares. Obviamente ele não será capaz de viver com este valor e pensa que o interesse demanda tempo integral; de fato, ele deseja restaurar suas credenciais e obter completo reconhecimento como pastor da Associação. De sua experiência presente ninguém duvida, mas o passado marcou profundamente a ele e à sua família.

“Sua esposa é um verdadeiro destroço emocional, e sua confiança foi tão amplamente abalada que, embora ela deseje que o marido pregue, existe o constante perigo de que ao ele se tornar popular e se envolver com o público, ela se tome ciumenta, quer exista motivo para isso ou não, e venha ela própria a trazer escândalo ao falar do passado, o que ela é propensa a fazer quando começa a suspeitar dele. Todos se sentiriam grandemente aliviados se houvesse um conselho definitivo do Senhor para este caso. Tenho certeza de que todos o aceitariam, inclusive o irmão e a irmã E.

“Pessoalmente, sinto muita tristeza por ambos e tenho confiança de que estão procurando viver corretamente, e gostaria de incentivá-los em tudo aquilo que for adequado. Seu passado é tão vigiado e tão amplamente conhecido, que tememos aconselhá-lo a empenhar-se no ministério, mas o fato é que ele o está fazendo, e aparentemente o Senhor está abençoando os seus esforços. Devemos aconselhá-lo a parar de pregar, ou deve a Associação aceitar os seus trabalhos e pagar-lhe por isto? Se ele trabalhar, deverá ser remunerado, e então o que dizer de suas credenciais?

Sinceramente, (assina) C. F. McVagh

“Escrito por solicitação da comissão da Associação do Alabama.”

Em 14 de setembro, o Pastor White colocou esta carta nas mãos da Sra. White, e em 15 de setembro, o Pastor White transmitiu o conselho da Sra. White a respeito deste caso ao Pastor McYagh. Esta é a carta de W. C. White:

“Estimado irmão McVagh: Faz duas ou três semanas que recebi sua carta datada de 15 de agosto, no tocante à perplexidade que surgiu na Associação do Alabama diante do caso de William E.

“Desde nosso retorno do Sul da Califórnia, mamãe tem se sentido cansada e enfraquecida, de modo que não coloquei a carta em suas mãos a não ser ontem. Ela leu toda a carta, e quando relembrou toda a dolorosa experiência vivida pelo irmão E, sentiu-se muito triste por ele e por todos os corações negativamente afetados no passado pelo comportamento fraco e pecaminoso deste irmão.

“Mamãe diz que aqueles que têm lidado com as perplexidades decorrentes das muitas transgressões dele no passado é que devem assumir a responsabilidade de aconselhar a respeito de nosso presente dever para com ele. Mamãe não gostaria de assumir grande responsabilidade neste caso, mas em relação ao irmão E diz o mesmo que tem dito a respeito de outros homens em posições semelhantes: Se eles se arrependeram totalmente, se estão vivendo de tal modo que seus irmãos se convençam de que estão sendo completamente sinceros, não os desliguem da comunhão da igreja, não os proíbam de trabalharem por Cristo numa posição humilde, mas ao mesmo tempo não os elevem a posições de responsabilidade.

“Entendo, a partir destas colocações, que não seria sábio renovar as credenciais para enviá-lo de lugar a outro entre o povo; contudo, se ele tem sido um cristão fiel e adquiriu a confiança da igreja no lugar em que mora, não o impeçam de realizar um trabalho pelo qual aquela igreja possa assumir a responsabilidade. De fato, talvez seja o dever dos irmãos irem além e lhe pagarem pelo trabalho fiel que exerça. Para ser franco, não vejo como deixar de remunerá-lo adequadamente se realiza trabalho criterioso e fiel. Mas isso não significa que devemos colocá-lo diante da mesma tentação ao conceder-lhe credenciais e enviá-lo por toda a Associação como um pastor itinerante.

“Mais uma vez afirmo, como o diria mamãe: Esta é uma questão que deve ser submetida àqueles que tiveram de lidar com o caso no passado. Por bondade, considere as opiniões por mim expressadas como sendo apenas sugestivas.”

No final desta carta Ellen White anotou pessoalmente as seguintes palavras de endosso: “Este conselho é correto para casos semelhantes. Que ele ande humildemente diante de Deus. Não vejo luz em dar-lhe responsabilidades.”

Não se ouviu mais acerca do assunto até o início de 1913, quando a Sra. White recebeu uma carta datada de 8 de janeiro de 1913, enviada por A. L. Miller, recentemente eleito presidente da Associação do Alabama, que dizia:

“Estimada irmã White: É meu doloroso dever escrever-lhe concernente ao irmão William E. Não necessito falar de sua vida e história passadas, pois a irmã se acha suficientemente familiarizada com os fatos, já que lhe foi enviada uma carta por parte do Pastor C. F. McVagh, datada de 15 de agosto de 1911. Lamento que tenha de trazer novamente o assunto à sua consideração.

“A carta do Pastor McVagh dizia respeito à questão de o irmão E receber credenciais e tornar-se obreiro da Associação.

“A presente dificuldade é se o irmão E deve ser eleito ancião da igreja de Birmingham, a maior e agora mais influente igreja da Associação, pois a sede da mesma está localizada em Birmingham. A igreja está dividida diante da questão, e isso vem exercendo uma influência negativa sobre o trabalho na cidade e, de certa forma, em toda a Associação. A maioria acredita, diante das habilidades e dos trabalhos realizados recentemente na cidade (conforme declarado na carta do Pastor McVagh, da qual uma cópia vai anexa), que ele deveria tornar-se ancião da igreja e atuar como o seu pastor, ou líder, ao passo que outros não favorecem esta ideia em virtude do registro de sua vida, e também pensam que os que lidaram com ele no passado devem aconselhar e recomendar quanto a esta possibilidade de ele se tomar ancião da igreja.

“O conselho apresentado pelos irmãos relacionados com ele, e também um voto recente da comissão da Southern Union Conference, são no sentido de que ele não deve ser eleito ancião da igreja.

“Em 28 de dezembro, o Pastor S. E. Wight (novo presidente da Southern Union Conference) realizou uma reunião com a igreja, durante a qual a questão foi debatida de modo um tanto livre. O Pastor Wight lidou muito cautelosamente com o caso e falou dos bons traços de caráter e qualificações do irmão E, mas fez a igreja saber que nem ele e nem eu podíamos nos sentir livres para ordená-lo, em virtude do conselho apresentado por aqueles que o conhecem.

“O único ponto acerca do qual todos estamos de acordo, foi o de colocar este assunto diante da serva do Senhor, e aquilo que o Senhor declarar, todos concordamos em aceitar.

“Pessoalmente, nenhum de nós tem coisa alguma a dizer contra o irmão E, antes o amamos e aceitamos em nossa comunhão como irmão da igreja, e assim o consideramos. A igreja, tendo o Pastor Wight como líder, pediu que eu colocasse este assunto diante da irmã a fim de sabermos qual é a instrução do Senhor para nós.

“Aguardando breve resposta, sou sinceramente seu irmão em Cristo, (assinado) A. L. Miller 1700 North Seventh Avenue Birmingham, Alabama.

“P. S.: Esta carta foi lida diante da igreja e por ela aceita.”

Imaginando que seu comparecimento pessoal diante da irmã White poderia influenciar positivamente o caso, o irmão E se dirigiu à Califórnia durante a segunda semana de janeiro, mas a Sra. White não se sentiu à vontade em ter uma entrevista com ele. Ele colocou então sob forma escrita as circunstâncias de seu caso, endereçando a carta à Sra. White com a data de 13 de janeiro de 1913. Em 14 de janeiro, a carta do Pastor Miller, de 8 de janeiro, bem como a carta do irmão E, de 13 de janeiro, foram postas diante da Sra. White. Ela fez a seguinte declaração quando as cartas foram lidas:]

Não acredito que quaisquer questões como estas devessem ser postas diante de mim. Não creio ser meu trabalho lidar com tais casos, a não ser que eles sejam plenamente abertos diante de mim. Na igreja devem existir irmãos capazes de falar decididamente a respeito deste caso. Não consigo compreender tais coisas. Não creio que Deus deseje que eu assuma qualquer responsabilidade semelhante. Se eles não podem resolver esses assuntos com oração e jejum, que prossigam orando e jejuando até serem capazes.

Tais questões aparecerão. Sim, elas aparecerão, quero dizer, eles experimentarão estas questões difíceis e precisam aprender como lidar com elas. Ainda não possuem tal experiência. Precisam levar esses assuntos diante do Senhor e acreditar que Ele ouvirá suas orações e lhes concederá uma experiência saudável em todas essas coisas, mas não devem trazê-las a mim.

[O irmão W. C. White leu porções da carta do Pastor McVagh, de 15 de agosto de 1911, após o que a Sra. White acrescentou:]

Não tenho particular luz sobre este assunto, de modo que não me atreverei a falar positivamente sobre ele.

Ele precisa demonstrar que Deus o aceitou e oferecer aos irmãos evidências tangíveis, sobre as quais eles possam decidir. Que eles digam: Vamos dar-lhe uma oportunidade. Verificaremos se Deus aceita os seus esforços ou não.

Para mim, entretanto, não é sábio assumir responsabilidade neste caso. Não devo assumir a menor responsabilidade. Aqueles que observam diariamente as ações do irmão E deveriam saber se ele provou a si mesmo e se Deus o aceita.

[Depois de ler a carta de William E, datada de 13 de janeiro de 1913, Ellen White declarou:]

Não posso assumir responsabilidade em tais casos. A responsabilidade de fazê-lo é muito grande. Poderia custar-me a vida. Que aqueles que foram apontados por Deus para conduzirem responsabilidades lidem com o caso de acordo com os princípios cristãos. - Manuscrito 2, 1913.

[Em conexão com a questão envolvida em sua declaração de 15 de setembro de 1911, quanto a assumirem posições de responsabilidade aqueles que haviam passado por tristes experiências como as de William E, o Pastor W. C. White, no início do ano de 1913, escreveu o seguinte:

“Parece-me que agora existe uma questão na mente dos irmãos, quanto a que significam as palavras:

‘Não os desliguem da comunhão da igreja, não os proíbam de trabalharem por Cristo numa posição humilde, mas ao mesmo tempo não os elevem a posições de responsabilidade.’

“Minha compreensão na época em que as palavras foram escritas, assim como a minha compreensão atual para as palavras: ‘Não os elevem a posições de responsabilidade’, é de que a elevação a posições de responsabilidade era o que se encontrava na mente dos irmãos quando pediram a restauração das credenciais e completo reconhecimento do irmão E como pastor da Associação. Não me ocorreu que isso devesse aplicar-se à liderança na igreja. Naquela época a questão da liderança na igreja não se achava sob consideração.”]

"Testemunhos sobre conduta sexual, adultério, e divórcio" de Ellen White - páginas 225 a 235

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